Expediente

Um ano de Apágina

por João Ricardo Oliveira



Todo estudante de jornalismo sabe: estágio decente na área é tão difícil quanto o PSTU eleger um presidente. Quando se consegue uma vaga, é para cortar papel (sob o eufemismo chique de "clipagem"). Se o seu QI (Quem Indica) não for bem alto, pode esperar sentado.

Kássia Alcântara, João Ricardo Oliveira, Eduardo Cavacanti, Bernardo Queiroz e Aluísio Gomes perceberam isso bem cedo em suas breves carreiras. Sentado no corredor do oitavo andar do bloco G da Unicap, Bernardo disse, de brincadeira: "Estágio? Só se a gente criar um jornal!". Eduardo (sempre ele) levou a sério.

Começou a mobilização. Fazer um jornal? Sim, fazer um jornal! Um laboratório feito por e para estudantes de jornalismo. Um lugar onde podem se exercitar no "sacerdócio" da profissão e pôr em prática todas as teorias.

E nome? Eduardo e Kássia viram na propaganda dentro de um ônibus a palavra que lhes chamou a atenção: "interação". Como o domínio www.interacao.cjb.net já existia na Internet, criou-se o Mais Interação. Pronto, tínhamos nosso jornal-laboratório!

Conseguir estudantes foi mais complicado. Ninguém compartilhou o entusiasmo dos cinco sonhadores. "Estou ocupado agora, mas depois eu entro!" E eles acreditavam. Nem os professores se motivaram muito a ajudar. Exceção louvável foi Heitor Rocha, então coordenador do curso.

Foram feitas eleições para os principais cargos e parecia que a coisa ia andar. Mas não houve entusiasmo; as pessoas reclamavam muito e faziam pouco. Poucos se interessaram como Matheus Sukar, que se tornou presença assídua (e polêmica). Vanessa Montenegro, com sua coluna de moda, e as dicas culinárias de Milena Cavalcanti e Karla Padrão. Carolina Teixeira dava as dicas para o fim de semana, enquanto Marcos Alexandre narrava os jogos de futebol tintim por tintim. E muitos outros participaram esporadicamente.

Vieram as férias, foram os colaboradores, e os cinco se viram sozinhos novamente. Bola pra frente. Se a turma não quer um jornal, ficaremos com ele para nós. Primeiro passo: mudar o nome, que dava um ar de grêmio secundarista ao grupo.

Aluísio, Bernardo, João Ricardo e Eduardo, na casa deste último e comendo bolo de chocolate feito por sua irmã, folhearam o Manual da Redação da Folha de São Paulo procurando sugestões de nomes. A idéia era fazer uma votação no próprio saite com os visitantes. As sugestões escolhidas eram Apágina, Síntese, Contexto e Prensa. O resto é história. Nessa mesma reunião, definiram-se os nomes dos cadernos. "Danária" (que nada mais é que o fim da palavra "moda" com o fim de "culinária"), nosso nome mais misterioso, permaneceu.

Segundo passo: novos integrantes. Foram procurá-los entre os calouros. Depois de muita água sob a ponte, ingressaram na equipe Igor Maciel, Carolina França, Guilherme Almeida e Marília Gusmão. Terceiro passo: parte gráfica. Mônica Schaffer, André Bandim e Cecília de Sá Pereira ajudaram na logomarca e na confecção das camisetas que se tornaram marca registrada do Apágina (e objeto de desejo dos novos integrantes).

Aline Grego, nova coordenadora do curso de jornalismo, apoiou a idéia de cara. Juntou os professores do DCS numa sala e obrigou-os a visitar o jornal. O grupo de alunos adorou: eles praticamente mendigavam por críticas e sugestões dos seus mestres.

Isso e mais o sistema de inclusão de matérias on-line, desenvolvido por Eduardo (sempre ele), deixaram o Apágina pronto para funcionar. Com essa estrutura, cobrimos o Abril Pro Rock e o Festival de Cinema do Recife. Sucesso! O jornal tornou-se conhecido na Unicap e em outros meios.

No segundo semestre de 2002, antes mesmo de irem recrutar entre os calouros, a equipe foi surpreendida com nada menos que 11 pessoas novas. Aos poucos essas caras foram aparecendo nas tradicionais reuniões, a ponto de quem faltar uma delas ficar deslocado.

E aqui estamos. Ainda é cedo para afirmar quem ficará conosco e quem será um colaborador esporádico. Ainda é preciso mendigar a atenção dos professores, que dizem "Vou visitar!" e nunca o fazem.

Mas fica a certeza de que o projeto já é um sucesso, pois está dando a oportunidade a alunos de jornalismo de aperfeiçoarem suas habilidades. E se você vir um grupo de camisetas-pretas reunidos na rua do Lazer, não estranhe: é só o pessoal do Apágina planejando suas próximas aventuras.


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