Danária

Dom: Ciume à moda antiga numa época nova

por Bernardo Queiroz



Dom (Idem, direção de Moacyr Góes, 2003) é simplesmente um filme sobre ciume. Nada de novo para o nosso cinema brasileiro ainda bastante novelesco. O sentimento é um tema bem comum como força motriz para tramas, da vingança sangrenta ao dramalhão mexicano puro e simples.

Talvez a única coisa nova que o filme acrescente para o cinema brasileiro em retomada seja sua idéia central: Uma adaptação de um clássico literário para a linguagem moderna de contar histórias. Embora não seja nenhuma novidade na indústria como um todo (Um ianque na corte do Rei Artur, do escritor inglês Mark Twain, já teve seis refilmegens, e um deles, com Martin Lawrence, vai estrear ainda esse ano), a tentativa foi algo feito poucas vezes no cinema daqui. Mal víamos adaptações dessas obras em tempos recentes, quanto mais reinterpretações!

Para quem não conhece a base da historia, “Dom”, Bento (Marcos Palmeira) é reapresentado a um velho namorico de infância, Ana (Maria Fernanda Cândido) por seu amigo Miguel (Bruno Garcia, interpretando bem). Dom e Ana se engraçam, mas ela começa a sofrer os acessos de ciúme de Bento em relação a seu melhor amigo.

Os atores tem desempenhos de medianos a bons, mas nada de extraordinário. Talvez a melhor escolha em relação ao elenco seja estética. Maria Fernanda Candido tem os “Olhos de Ressaca” que tanto marcaram Bento no romance de Machado de Assis.

Mas a obra não sobrevive tão bem ao século 21. Apesar da dramaticidade dos eventos, algumas liberdades poéticas são tomadas que quebram um pouco o clima do filme. Talvez o melhor exemplo seja a clássica cena em que Dom Casmurro suspeita do seu próprio filho. A fala “eu quero um teste de DNA” chega a criar risos, e faria mestre Machado remexer-se em sua sepultura, embora seja um desdobramento lógico.

A peça cinematográfica é bem construída, tem peso, força e velocidade: Tanta que nem sempre se nota o tempo passar no filme, que levaria 7 anos do inicio ao fim da historia.

Dom é um filme mediano, do tipo que o Brasil precisa pra consolidar uma “industria” de cinema mais continuada. É interessante, e que vale a pena ser visto pelo conceito. Só.

Serviço:
DOM (Idem, Brasil, 2003)
Direção: Moacyr Góes
Com: Maria Fernanda Cândido, Marcos Palmeira e Bruno Garcia
Em exibição nos Cinemas dos Shoppings Recife e Tacaruna.



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