Danária

Muito mais que um filme sobre retirantes

por Aluísio Gomes



O ano de 2003 promete entrar na história do cinema brasileiro. Além da produção de inúmeros bons filmes, o que mais tem se destacando é que eles estão chegando nos cinemas, requisito básico, mas “esquecido” em anos anteriores. O mais novo produto dessa safra a chegar as telas é O Caminho das Nuvens (O Caminho das Nuvens, Brasil, 2003) do estreante em ficção Vicente Amorim.

O filme narra a trajetória de uma família de retirantes nordestinos que segue para o Rio de Janeiro. Pode engolir, em parte, a sensação de dèja vu. O diretor usa mão de vários recursos para transformar a trama tão banal em algo novo e pessoal. A primeira e mais óbvia é que eles fazem essa viagem de bicicletas (o filme é baseado numa história real). A segunda é a música, além da trilha para o filme composta por André Abujamra, há canções de Roberto Carlos que guiam toda a obra e conduzem a narrativa. A terceira é a relação entre o pai Romão (Wagner Moura) e o filho Antônio (Ravi Ramos Lacerda), a melhor coisa do filme.

Moura (Deus é Brasileiro), Lacerda (Abril Despedaçado) e Claudia Abreu (O Homem do Ano) que faz a mãe Rose, três figuras carimbadas nas últimas produções nacionais repetem suas boas atuações aqui. Wagner Moura faz do Romão um homem obstinado pela busca de um emprego de "mil reais" para poder sustentar a família. Ravi Lacerda, chegando à adolescência, mostra com sensibilidade que choques de gerações está longe de ser algo restrito a jovens urbanos. Enquanto Cláudia deixa de lado seu sotaque carioca para fazer a típica mulher nordestina, mãe e mulher devotada, mas com fibra para enfrentar as adversidades.

Apesar de todo o esforço de soar diferente, esteticamente não tem como evitar a semelhança com outros filmes que se passam no Nordeste. A fotografia de Gustavo Habda é boa, mas essa mesma textura já foi vista com mais qualidade em Central do Brasil. O filme segue num ritmo lento parecendo acompanhar as bicicletas, algo que tanto pode soar poético para alguns, quanto cansativo para outros, acostumados com o ritmo de bala que o cinema brasileiro vem adquirindo nos últimos anos.

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