Danária

Lisbela e o Prisioneiro

por Bernardo Queiroz



Os filmes brasileiros tem melhorado muito seu sucesso em matéria de números, isso é fato. Mas tambem é (ou era) provado que não era possivel criar “cinema comercial” no brasil, e portanto, não era viável uma indústria cinematográfica no sentido financeiro da palavra.

Algumas obras negaram essa idéia de cinema “de arte” com sucessos estrondosos de público (Cidade de Deus e Carandiru). Mas filmes assim eram feitos com grande esforço e sacrifício e com pouca expectativa de
lucro. Agora, depois de alguns tropeços (A paixão de Jacobina) e aos trancos e barrancos (Deus é Brasileiro), a Globofilmes manda ao mercado um filme com receita certa pra recorde de vendas. Aliás, uma receita já bem aperfeiçoada.

Baseada numa peça de teatro, sob alguns aspectos, Lisbela e O Prisioneiro (Lisbela e o Prisioneiro, Brasil, 2003) é um metafilme, devido as inumeras alusões a cinema feita pela mocinha inocente Lisbela (Débora Falabela), que se apaixona por um vigarista vagante e vagabundo (Selton Mello). A moça já é noiva de Douglas (Bruno Garcia, Os Maias), e todos os conhecidos da moça acabam se envolvendo. O Viajante Leléu, mulherengo inveterado, tem seus próprios problemas com um matador de aluguel, Frederico Evandro (Marco nanini, brilhante), a quem “enfeitou com cornos”, ao se envolver com Inaura (Virginia Cavendish).

O roteiro é de uma velocidade vertiginosa, com os dialogos velocíssimos, como já de hábito nesse tipo de comédia, mas com um invariável tempero nordestino. O gênero já provou que tem cadeira cativa no sucesso de O Auto Da Compadecida, que mesmo depois de passada na televisão aberta ainda arrecadou muito dinheiro no cinema. Os atores trabalham bem, os diálogos são espirituosos e bem construidos, um requisito básico no estilo. A trilha sonora ainda tem aquele gostinho de “trilha
sonora de novela”, infelizmente, com músicas de personagem e não de situação, mas de boa qualidade, com nomes como Caetano Veloso e Zé Ramalho.

O filme faz coisas interessantes com a questão de continuidade, mostrando algumas cenas como os antigos seriados de cinema da década de 50, com direito inclusive a dublagem descoordenada. A cinematografia e iluminação são competentes com os planos de cada personagem, em particular o Marco Nanini, que tem uma atuação mais marcante. Nunca uma riscada de fósforo foi tão característica...

O resultado é uma competente comédia romântica nordestina, com elementos de cinema-dentro-de-cinema, mas nada exagerado, e certamente bem longe do cinema violência-apelação. Os atores são realmente engraçados, mas talvez o filme possa não ser tão bem aceito no eixo Rio – São Paulo por uma questão linguistíca. Algumas gírias dos personagens são bem gerais, mas algumas são por demais específicas e particulares.



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